Por conta de um trabalho que estou desenvolvendo, precisei me aprofundar um pouquinho em alguns pontos da história.
Dei uma parada nesse momento para organizar os pensamentos.
Vamos lá!
Dois fragmentos de definições que peguei da Wikipédia, para ilustrar esse texto:
QUILOMBO POR DEFINIÇÃO
1. "Os quilombos, no passado, constituíram-se em locais de refúgio de africanos escravizados e afrodescendentes em todo o continente americano."
2. "O termo quilombo tem assumido novos significados na literatura especializada e também para grupos, indivíduos e organizações. Ainda que tenha um conteúdo histórico, o mesmo vem sendo ‘ressemantizado’ para designar a situação presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos do Brasil."
Veja em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quilombo
Na verdade, chega a ser atenuante querer pregar que o Quilombo é um espaço ocupado por negros, ainda que fossem a maioria, não era esse o único povo a ali estar.
Havia índios, brancos, mestiços, etc. à visão da época.
Dada à perseguição, fases de libertação e condições que lhes impunham vulnerabilidades diversas, os negros eram os que tomavam frente e se organizavam a fim de se proteger, mas, a história conta que não eram seletivos ou exclusivistas quando o assunto era etnia, mas sim à vulnerabilidade do cidadão que o buscava.
Bom, antropologia à parte, penso nos tempos atuais em relação à antiga realidade vivida.
Muitos sabem o quanto me incomoda uma prática antiga que parece ter contaminado toda uma sociedade de geração a geração: A SEPARAÇÃO DAS SEMENTES.
É incrível como a gente consegue se separar, se distanciar e até evitar saber, por onde caíram as sementes da mesma árvore que a nossa. Falo aqui de genealogia... de parentescos...
Lá atrás o povo era separado nos navios, nos portos, em fazendas diferentes, misturados outros negros de outras regiões da África muito distantes da sua, e ainda que do mesmo continente... com outras línguas, culturas, e, num passado mais recente, se separaram por guerras, ultimamente muitos tem se separado pela fome, por doenças e assim por diante.
Ainda vemos alguns exemplos e relatos de separados - ainda focando na história mais recente - que, apesar da distância e da dificuldade, buscam encontrar os seus. Buscam estar perto de suas ancestralidades e preservar suas culturas, sempre que aparece a menor oportunidade possível de fazê-lo.
Com exceção dos agraciados por leis que os tornavam libertos, mas sem recursos financeiros, os demais, invariavelmente, eram fugitivos e/ou procurados por qualquer outro motivo mas, sempre, protegidos pelas fortalezas dos quilombos.
A sociedade hoje não mudou muito no contexto geral dessa prática.
Não é por não ser negro que a pessoa não está aquilombada.
Quantos são os que tiveram que migrar para a periferia. Reaprender a viver, a se socializar e a respeitar as regras do seu novo habitat?
Em alguns cantos chamam de favela, em outros de comunidade, em outros de residencial, em outros de bairro e, seja lá qual for a forma que o chamam, se olhar direito, há de se perceber que se está em um ponto distante da "sociedade" e do ponto gerador de finanças e oportunidades, dependendo da boa vontade, do reconhecimento, do respeito e do senso comunitário dos seus vizinhos.
Vivendo em um lugar onde há muita história do tempo que não se tinha nada, estruturalmente dizendo-se, e que foi evoluindo, a criminalidade diminuindo, o atendimento das necessidades sociais chegando e o espaço "se valorizando".
Por falta de resistência, pois alguns tem a oportunidade de sair dali para um lugar mais confortável, enquanto outros se aventuram em vender tudo e recomeçar em outro ponto, no espaço que vai se transformando, os pseudo ricos vão chegando, pois daí entendem que dá para ali se alojar e o espaço está se valorizando, configurando em um bom negócio. Daí o povo se sentindo em franca evolução... se acomodando, sentindo-se seguro, confortável sem perceber, lá no fundo, a ponta de saudade de personagens importantes na história que já não estão mais ali.
Sem perceber que agora, suas poucas economias que poderiam e deveriam ser circuladas entre os seus, passa a ser injetada em empresas, produtos e bens de consumo oferecidas pelas grandes - e quando não gigantes - do mercado que se estabeleceram na proximidade... no terreno de alguém que preferiu se arriscar em outro espaço e observou ganhos financeiros na transação oferecida, sem se incomodar com tudo mais que estaria sendo comprado, da história que ali se criava.
Para resumir, pois acredito ter que descrever melhor essa fala em outro momento.
Todos vivemos em um Quilombo.
O nosso quilombo começa em nossa casa, em nosso lar, onde aprendemos e ensinamos aos nossos as lições que nos dão segurança para continuar a viver... onde protegemos os nossos dos perigos e riscos que vem do além muro... onde nos preocupamos com o bem estar dos nossos amigos e vizinhos, sempre tentando ajudar a dar um conforto.
O nosso quilombo está em nosso bairro, onde no passado brigamos pelo asfalto, pela água encanada, pela construção de uma creche, pela chegada de ônibus coletivo até a gente... onde nos preocupamos em ter um posto de saúde, escola e tudo mais que configura a necessidade básica para ali continuarmos a viver.
No nosso quilombo, muitas vezes nós não produzimos, não chegamos a criar, sequer, uma horta comunitária, mas, nos comovemos, nos unimos e nos apoiamos para ajudar o outro que passa fome... que está doente, precisando de uma palavra amiga ou qualquer outro socorro que nos seja possível dar.
Temos que aprender a ser resistência.
A preservar a nossa história.
A buscar nossas sementes, reuni-las e tratar para que nosso pomar jamais pereça às pragas e ervas daninhas, ou se destrua com as adversidades - que não são da natureza - que entendemos serem inerentes às condições que nos são impostas e aceitamos como "legais".
"UM DIA NOSSO POVO FOI TIRADO DO QUILOMBO, MAS O QUILOMBO JAMAIS SAIU DE DENTRO DO NOSSO POVO!"
AQUILOMBEMO-NOS!
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