quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Fotografia. Profissão ou desafio pessoal?


Às vezes eu penso que escolhi por carreira uma das profissões mais complicadas do mundo.
Poucas outras carreiras que se enquadram no mesmo patamar, ou que atuam no mesmo ambiente e área de trabalho que a minha, refletem o mesmo tipo de dissabor profissional e chateação no momento da contratação ou venda do
serviço, já que minha área é totalmente voltada à prestação de serviços.
Independente do tipo de evento - entenda-se como evento todo e qualquer projeto para o qual me contratam ou que necessitam dos meus trabalhos - sempre elencam a fotografia como despesas. Nunca como investimento, só se lembrando da falta desse investimento quando tudo se degringola, quando acontece algum acidente que se relacione ao evento ou quando não há mais lembrança; ou quando alguém muito importante se despede, seja de qual forma for.
O fato é que, independente do tipo ou dimensão do evento, seja ele um simples ensaio fotográfico para registrar o seu "momento top", a sua fase especial ou mesmo aquele toque diferente que foi dado no visual ou, na mesma dimensão, o show daquela grande personalidade que visa gerar um bom retorno para os investidores e organizadores, a fotografia sempre é elencada como despesa e muitas vezes como uma despesa pesada, por menor que seja o valor praticado.
Estudamos, treinamos fazendo dezenas de milhares de clicks da mesma situação, condição de luz e tudo mais.
Investimos em equipamentos que nos possibilitem captar com a maior fidelidade aquilo que observamos.
Ficamos sempre atentos a desenvolver um olhar mais delicado ou específico e ideias de tratamentos digitais que se adequem à situação.
Buscamos nos transformar em pessoas agradáveis, apesar de sérias e francas, para não enganar ninguém e, no final de tudo, somos obrigados a conviver com situações muito chatas, nas quais os nossos fãs, pois clientes não agem assim, tem por mania elencar o nosso trabalho como caros ou, quando não, como presentes valiosos que podemos dar naquele momento que entende ser importante para o ego obter um registro nosso.
Eu, particularmente, já me fartei de passar pelo incômodo de ser convidado para eventos com a nítida esperança (velada) de que eu confirme a presença sim e preferencialmente leve minha câmera fotográfica.
Quando não, na maior deselegância, me convidam como presença VIP, ou seja, não preciso pagar a portaria, desde que eu esteja com a câmera fotográfica, pois sem ela, eu sou apenas mais um reles mortal que, assim como os demais, preciso dar minha colaboração para o caixa do evento. Nesse momento, as tantas vezes que colaborei financeiramente e ainda deixei a recordação dos momentos em que estive de passagem, como o "fotógrafo à paisana que não se contém e acaba fazendo a cobertura do evento" valem o mesmo que vale todo o carinho e consideração falsamente demonstrados: NADA.
Tenho a fotografia como uma magia prazerosa da minha vida.
Se eu pudesse, é claro, viveria pelas ruas com uma câmera fotografando tudo e todos, porém, satisfação pessoal não paga contas.
Por quantas vezes sou procurado por pessoas que estavam num evento em comum, no qual eu capturei imagens descompromissadas, compartilhei nas redes sociais elevando o ego dos fotografados com centenas de "curtir" e deixando um registro daquele momento que, no auge do fervor do evento, para eles não passava de uma bela recordação fazendo sucesso nas mídias sociais.
Passado o tempo, e isso tende a ocorrer com todos nós, alguém que estava presente se vai. Parte desse para outro plano. Aí, como se eu tivesse a responsabilidade de manter tal produto, visando o incômodo lucro pós morte, lembram-se que existia aquele lindo registro e me procuram oferecendo valores até desproporcionais, por uma cópia daquela foto para guardar como recordação.
Quando me contratam para algum trabalho eu aviso que guardo o material por até dois anos, passado isso, não o terei mais, motivo pelo qual entrego ao meu contratante uma cópia em alta resolução de todo o material capturado, numa clara transferência de responsabilidade e no justo retorno do valor (pequeno, porém, reforçando, justo para mim) investido.
Conselho: nessa situação procure o contratante, independente do tempo em que ocorreu esse fato tão triste.
Se ele não tiver o material, alegando que não o recebeu, significa que ele não me contratou para tal, que eu estava por lá de passagem e, assim como você, curtindo uma balada e, principalmente, não me cobre por isso, cobre sim os donos de casas de shows e eventos que deem esse respaldo e sempre contratem os

serviços de um fotógrafo para eternizar (como deve ser o papel da fotografia) momentos marcantes e agregar ao evento uma qualidade singular.
Já vivencie casos de quererem me contratar para horas e horas de trabalho, mas quererem me pagar uma bagatela que mal cobriria as despesas de transporte e alimentação. Humilhante isso, assim como é humilhante a cara de pau (isso mesmo) da organização ao vir me fazer proposta de fome esperando obter um produto de alta qualidade.
Infelizmente, após tantos anos e reconhecimento no mercado, não vivo a situação de ter que ficar demonstrando para ninguém o meu talento ou a qualidade do meu trabalho. Isso ocorre naturalmente ao verem minhas fotos e se identificarem com elas. Educadamente agradeço a esse tipo de oferta de apoio, porém, dispenso!
Nos eventos tudo é elencado com todo carinho, quando se prestam a fazer um evento sério:
A equipe de divulgação tem seu preço, mesmo que essa fique apenas atrás do computador ou telefone fazendo suas "panfletagens virtuais", pois é esse o combinado e oferecido pelos promoters, e, no dia do evento, além do valor combinado para a prestação do serviço, muitos tenham direito a camarotes e isento de despesas de sobrevivência no local.
Acho legal, valorizadíssimo, enfim, são os que ajudam a fazer a festa.
Seguranças, sempre alinhados - ou não e, nesse caso, na condição de "agentes secretos" - independente das ocorrências que existam, entendendo-se que a não existência de ocorrências também se deve à boa atuação desses profissionais, também tem seu valor elencado e bem visto dentro do evento.
A equipe da limpeza e manutenção do ambiente, os caixas, o povo da recepção (portaria) e até os flanelinhas. Todos tem seu valor apropriado, bem visto e pago sem reclamações.
Não me estenderei às atrações dos eventos, pois sem eles não teria motivo para o público estar presentes e, para cada qual, sua presença só será efetivada mediante o pagamento do que se foi acordado, o que nunca é caro, pois se contratado, é porque toda a estrutura e público tem condição de fazer valer à pena ao final.
Aí, vem a fotografia.
Entendo que hoje a fotografia do celular nesses eventos é muito mais rápida, tem uma qualidade legal e talvez seja suficiente para muitos e, para esses, eu só agradeceria se não me tomasse o tempo de formular proposta de um produto que não cabe para o seu evento.
Tem tudo aí.
Qualidade, imediatismo de postagem e o que mais precisar.
Para aqueles que gostam de fazer graça e ter uma equipe de fotógrafos (ou não, pode ser aquele único que a galera já está acostumada) apenas para fazer constar e poder dizer que ELE (o fotógrafo) estava registrando, fica o conselho:
Fotógrafo não faz parte da organização do evento.Não o atrele à possibilidade de sucesso ou não do evento, pois isso é problema da equipe de promoção.
Entenda que para fazer esse tipo de serviço qualquer fotógrafo que se preze vai querer receber o valor do seu serviço, no mais tardar, assim que chegar no local do evento... e isso se falando de clientes considerados confiáveis, aqueles para os quais já estamos acostumados a fazer vários trabalhos, pois não há condição de fazer duas horas de fotografias e ter que esperar mais duas, três ou quatro horas para o fechamento do caixa e correr o risco de depois dessa ação ainda ouvir o famoso "não deu lucro", "Não vai dar para te pagar", "deu ruim, como podemos fazer?".
Isso não é problema do fotógrafo pois ele, assim como todos os demais envolvidos, trabalhou, gerou um pacote que vai precisar de mais horas e horas de tratamentos e ajustes para se "revelar" aquilo que foi visualizado e não estava por lá de brincadeira ou curtição, mas sim, zelando pelo seu nome e pela sua profissão.
Nem perca tempo de me procurar se não tiver como me pagar na contratação do evento, na assinatura do contrato.
Casamentos.
Infelizmente já presenciei vários casos de casamentos que, sintonizados na correria da vida e no acelerado passar do tempo nos dias atuais, me contrataram para a cobertura, solicitaram dividir em duas ou três vezes - sendo que a procura emergencial sempre se deu em cima da data do evento.
Quando muito me pagaram uma entrada e nem deu tempo de receber o restante, pois no decorrer do tratamento digital já haviam se separado.
Debutante é outro trabalho que tem me dado muita pena em certos casos e esses principalmente das filhas de amigos de longas datas, colocando em risco até mesmo a amizade existente.
Existem pais e responsáveis que, para realizar o sonho da querida filha, contratam a maior cobertura fotográfica.
Com o reforço no  pedido para que não deixe-se escapar nenhum detalhe do evento, pois esse é muito importante, porém, nunca mais dão sequencia ao acordo comercial firmado e o grande sonho do registro, fica limitado às câmeras de celulares ou digitais de parentes que fizeram apenas um registro pessoal, para não deixar de ter rapidamente alguns clicks do evento.
Creio que muitos outros fotógrafos se identificarão nessa postagem e entenderão o porquê da fotografia ser um produto caro, principalmente para nós que vivemos disso, pois, para os demais, caro é dar valor para algo essencial.
Darão valor sim. Depois. Lá na frente quando forem fazer um novo evento e precisarem de imagens daquele de sucesso que fizeram há algum tempo atrás, mas para o qual as imagens existentes não atendem à necessidade premente.
Quando, como já mencionado acima, uma pessoa querida falece.
Quando a criança aniversariante cresce e se lembram que havia aquele registro lá do passado como único com qualidade do evento que se foi a tanto tempo.
Darão valor quando verem que o tempo passou e levou consigo a história e aí, querem nos procurar para comprar algumas fotos do casamento falido que existiu - já passei por isso, mesmo sem saber ao certo qual o intuito de se querer o material e com uma desconfiança dos motivos alegados.
Quando a debutante do passado estiver se preparando para se casar e lembrar que na foto dos seus 15 anos, tem registro de amigos e familiares que será muito legal recuperar para apresentar no "videobook" do casamento.
E assim vai.
A fotografia se apresentando como uma despesa chata e incomoda nos dias atuais, mas que, no futuro, pode trazer ao fotógrafo (que será chamado de sem escrúpulos, por se aproveitar de uma situação de necessidade alheia) lucros imprevisíveis dada a sua valorização temporal.
#foiditoepronto

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