Pois bem.
Vamos lá.
Espero que ao final não me xingue.
Até mesmo por que não é fácil abrir uma história dessa para
quem quer que seja.
Ontem à noite, fiz uma deliciosa - com um tempero ótimo -
salada de chicória (ou escarola, como queira chamar) com cebola.
Adoro cebola e isso é fato.
Me fartei.
Hoje, pela manhã, tomei aquele cafezinho preto de todo dia e
parti para meu passeio virtual.
Em busca de alguma postagem legal para colocar na abertura
do dia nas redes sociais.
Estávamos em casa eu, minha mãe e a minha irmã.
Nem percebi minha mãe saindo, enfim, estava compenetrado
filtrando algo para compartilhar.
Eis que do nada, sinto uma revolução intestinal daquelas que
há muito tempo não sentia dentro do meu corpo.
Corri para o banheiro e aí começou o martírio.
Já dá para adivinhar a linha da conversa nesse texto, né?
A porta do banheiro estava trancada por dentro. Alguém
estava lá.
A considerar não ter nenhum outro barulho no interior do recinto,
já dava para imaginar que estivesse ocupando o lugar que naquele momento eu já
havia considerado ser meu.
Mas, tudo bem.
Era só um primeiro sinal e, como todo sinal que se preze,
depois do primeiro vem o segundo, o terceiro e tantos quantos mais forem
necessários.
Bom, já que a coisa estava nesse pé, tratei de excursionar
pela casa atrás do jornal do dia.
Sem maus pensamentos.
O procurava para ler mesmo, pois, se há um momento propício
para isso é nessa hora de sentar no reservado e perder uns minutos.
Minha mãe tem a mania de ler o jornal e o levá-lo para o
quarto, ou também para o banheiro - parece que isso é uma mania comum.
Excursionei por todos os cantos da casa e logo conclui que
fosse a última opção: "Ela devia tê-lo levado como companheiro da
aventura", até então, não havia dado conta de quem estava no banheiro.
O quarto da irmã estava fechado e logo imaginei que ela
tivesse saído sem eu perceber – óbvio que preferia que fosse minha mãe quem
estivesse no banheiro. Mãe é mãe e muito mais compreensiva, ainda mais nesses
momentos de necessidades maiores.
Momento em que veio o segundo sinal.
Agora um pouco mais forte e, com ele, um princípio de
desespero pensando que poderia não dar tempo de fazer o revezamento e a
imaginação do quanto seria constrangedor.
Tratei de menosprezar o fato, mudar de pensamento e fazer
alguma outra coisa que não desse ao intestino a impressão de que estava
preocupado com a gritaria dele ou que fizesse com que ele entendesse que o
showzinho à parte não estava me fazendo ceder.
Comecei a preencher uma ficha no computador quando ouvi a
maravilhosa orquestra sinfônica da descarga tocando alto, limpo, claro e me
dando a real noção de que o espaço se liberaria.
Não pensei duas vezes.
Abandonei a tarefa que eu estava desenvolvendo, joguei
(literalmente) o celular no bolso da bermuda e fiquei de prontidão.
Já que não encontrei o jornal, me contentaria com alguns
momentos de paz para jogar um Candy Crush qualquer coisa – joguinho que adoro
usar para passar o tempo.
Preparadíssimo para ouvir a porta do banheiro se abrindo e, frente
à ansiedade que já me dominava, correr e entrar em seguida. Antes mesmo dela
fechar.
M-A-R-A-V-I-L-H-A !
Menos de um minuto depois, ouço a porta do box do banheiro
se abrindo.
Dando a nítida impressão de que a pessoa ia tomar banho e
isso foi um balde de água fria na ansiedade de descarrego intestinal e uma chuveirada
queimando - na mais quente posição inverno - na preocupação do domínio da
situação.
Acendeu o alarme de estado de calamidade e soaram as buzinas
do Armagedom.
A batalha já havia tomado um rumo certeiro.
A guerra estava declarada e eu já me sentia refém sem muito
tempo para pensar o que fazer.
Mas reagi!
Nunca fui de me entregar fácil.
Comecei a andar pela casa.
Pensei alguma música para assobiar.
Pensei que, de repente, é um banho rápido e, nessa
estratégia dissimuladora, pode ser que dê tempo de enganar o organismo.
Mas pensei também na possibilidade de nada disso dar certo e
se eu teria um plano B para colocar em ação.
Foi quando houve o avanço de fronteira e percebi que não
teria muitas chances nessa batalha.
Único pensamento em mente.
Usar a criatividade e preparar para o pior... apelar.
Deu tempo de:
- Juntar duas sacolinhas de compras.
- Fechar a janela - vai que precisa ficar peladão.
- Jogar o roupão de banho sobre a cama, enfim, se nada desse
certo... ia ter que sair coberto ao máximo para a operação limpeza corporal.
- Pegar a toalha do varal.
- Fechar a porta
- Tirar a bermuda e a cueca, jogar a camisa num canto,
preparar os saquinhos, ir para o canto do quarto, preparar... foi corrido assim
mesmo.
Preparar coisa nenhuma... nem deu tempo...
Mal deu tempo de mirar nas sacolinhas e ainda caiu uma
qualquer coisa no chão que eu tive que limpar depois.
Pai amado.
Não sei de onde saiu tanta coisa.
Ainda bem que as sacolinhas eram de um tamanho bom e estavam
bem reforçadas.
Nesse mesmo momento ouvi a pessoa saindo do banheiro - nem
ouvi o momento que terminou o banho, pois estava no meio da batalha mundial.
A meleca não foi nada boa - maldita cebola - dava para
sentir o odor dela (não ria e nem faça cara de nojo nesse momento, pois é
comum) e eu sentia que o grude estava abaixo da região glútea, o que me levou
de novo ao desespero. Agora, para tomar banho.
Mas eu tinha que fazer alguma coisa com o pacote gerado.
Amarrei bem a boca das sacolinhas... coloquei dentro de
outras duas e deixei separada num cantinho.
Só não deu tempo de escrever "não mexa nessa
merda", mas isso seria de menos, já que ninguém entra no meu cantinho
sagrado (quarto) e, quando o fazem, me pedem permissão.
Claro que se ventilassem tal ideia eu ia dizer que estava
interditado.
Peguei a toalha, parti para o banheiro, sentei no trono com
muito cuidado para não o melar, pois ele não tinha nada a ver com meu desfortúnio
e ainda devolvi um pouquinho de alguma coisa que restava e que o intestino
devia estar guardando para me incomodar algum tempo depois.
Dali para o banho... gostoso e preocupante.
Com medo de que a coisa estivesse cheirando no quarto e isso
pudesse causar algum mal-entendido depois e, pior que isso, eu tivesse que
explicar para todo mundo o que havia ocorrido.
Saí de lá com um rolo de papel higiênico cuidadosamente
escondido.
Limpei o excesso ousado que caiu no chão, coloquei dentro
das sacolinhas, amarrei e fechei com mais duas sacolinhas extras, para garantir
o bom funcionamento da urna mortuária de merda improvisada.
Troquei de roupas.
Peguei o kit limpeza e lá fui eu dar um trato no chão para
não sobrar vestígios - e nem cheiro - da merda que fiz já cedo.
Depois dessa.
Que seja, de alguma forma, um bom dia.
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